No Hipostilo do Templo, o Neófito, candidato à Iniciação, se viu envolvido pelo silêncio sepulcral que enchia o mundo subterrâneo para onde fora levado.
Silêncio somente quebrado pela voz do Mestre que, grave, se fazia ouvir:
"Escuta em Silêncio que é a Chave do Saber e, através da obediência ao Mestre, compreende que a verdade foge dos olhos do não Iniciado e que os Mistérios são revelados, apenas, ao Solitário entregue à reflexão e àquele que indaga no sossego da sua morada interior.
Lembra-te que a semente de toda a Sabedoria é o Silêncio.
Por tudo que te disse, filho da terra e aprendiz de homem, lembra-te de que quem afronta o que sonha, sem refletir no que pretende, encara o desconhecido e, como resultado encontra a própria perda. Cuida, pois todos aguardam teu fracasso e se portam como lobos esperando, em emboscada, para destruir-te.
Segue este conselho como medida de prudência: Observa, escuta, reflete e guarda silêncio".
Com um movimento de cabeça, o Mestre convidou o Neófito a seguí-lo e, lentamente, ambos penetraram na Galeria dos Grandes Mistérios.
O Mestre disse:
"Não te esqueças, filho da terra e aprendiz de homem: ninguém pode ferir-te, senão tu mesmo".
Reiniciaram a grande caminhada em direção ao seu Universo interior!
Maçonaria é uma Sociedade Iniciática. Silenciosa. Secreta.
Maçonaria é um sistema sacramental que tem um aspecto externo visível, cerimonial, com doutrina e símbolos. Tem um segundo aspecto, interno, consistente, que é mental e simbologista, velado nas cerimônias rituais e só acessível ao Maçon, pois que, ele, somente ele, aprendeu a extrair a realidade oculta nos simbolos.
Não sendo órgão de nenhum partido político ou grupamento social, a Maçonaria firmou seu propósito de estudar e impulsionar todos os problemas referentes à vida humana, com a finalidade de assegurar a Paz, a Justiça e a Fraternidade entre todos os homens e povos, sem distinção de raça, cor, religião, ou nacionalidade.
Antes, muito antes, não existiam Templos!
A civilização nasceu quando o caos e a insegurança chegaram ao fim, o medo foi dominado a curiosidade e a construtividade se viram em liberdade e, então, por um impulso natural, o homem procurou a compreensão e o embelezamento da sua vida.
Eis quando eu localizo, no Tempo Pretérito, os pilares mestres da ideologia Maçônica.
Então nasceram os Templos!
A Maçonaria, tal como hoje a conhecemos, tem sua estrutura a partir de 1717 com a consolidação dos velhos ordenamentos feita pelo reverendo James Anderson.
Ele mesmo, entretanto, pressupõe pretéritos.
Não é para menos! Exatamente na Inglaterra, à época de seu trabalho, já eram disponíveis documentos como aquela ilustração, acervo do Museu Britânico, na qual o Rei "Offa" of Mercia (757-795 d.C.), que construiu o dique que se estende da foz do rio Dee até ao leste do rio Wye, em Chepstow, está acompanhado do "Master Mason" que empunha um Esquadro e um Compasso.
A Maçonaria tem duas histórias: uma legendária e tradicional que vai à aurora da Arquitetura e outra, moderna, cobrindo um período de muitos séculos desde as antigas "guildas" e "fraternidades" que se radicavam na Inglaterra e no Continente, principalmente no período Gótico. Deste período, se acredita, provêm as principais linhas da Maçonaria atual. Deste tempo sobejam documentos e é fácil ser traçada a trajetória da Ordem. Foi neste tempo que aconteceu a integração da Maçonaria Operativa com a Maçonaria Especulativa, linha intelectual que se difundiu, principalmente no Ocidente e cuja estrutura mestra se encontra no chamado "Livro das Constituições" de 1723 da lavra de James Anderson que dedicou e trabalhou, como diz no intróito, para o Duque de Montagu, que exercera, no ano anterior, o Grão Mestrado da Ordem.
Embora alterado em 1738, em 1756, em 1767, em 1784 e, depois em 1813, quando se dividiram as duas correntes Maçônicas em Antigos e Modernos e que se fundiram em 1815 nascendo, então, a Grande Loja Unida da Inglaterra, ainda assim, o texto de Anderson, é dominante, pois que fundado na tradição, nos velhos manuscritos, regulamentos e nas Constituições Góticas que regiam as Corporações do Ofício de Pedreiro.
Até a Constituição de Anderson, prevalecia a tradição oral, de Maçon a Maçon, de ouvido a ouvido, e, portanto, sujeita às interpolações e desvios intencionais ou falhas de memória - tal qual na Bíblia.
O que estava escrito era guardado pelos Veneráveis para que não caísse em mãos profanas, evitando, assim, a destruição dos Segredos da Ordem.
Restou disponível, para a posteridade, para compilação de Anderson que contém uma parte Histórica e outra Disciplinar (Old Charges e General Regulations), o que fora arquivo das Lojas.
Não se fique, por isto, com a impressão, errônea, de que o 1º dia do 1º ano foi nesta época!
Não!
Em 80 a. C. foram abolidos pelo Senado Romano os Colégios de Arquitetos, sucessores dos Colégios criados por Numa Pompílio, cujo objetivo era perpetuar os antigos Mistérios.
Restaurados 20 anos depois, foram conservados até 378 d. C. quando o Cristianismo passou a dominar Roma. Suas tradições secretas foram transmitidas à Europa pelos Comacini, a cujo gênio criador se deve a arquitetura romanesca e o renascimento das Lojas da Europa. Guardavam marcante analogia com o moderno sistema Maçônico eis que estavam organizados em Mestres e Discípulos sob o governo de um Grão-Mestre. Usavam sinais, toques, palavras de passe e juramento de sigilo e fidelidade. Usavam aventais e luvas brancas e entre seus símbolos principais estavam o Leão de Judá, o nó de Salomão, o Esquadro, o Compasso, o Nível, o Fio de Prumo e a Rosa. Eram homens com o privilégio de livres no Estado de Lombardia;
pelos Corps d' Etat, que, na França, exercitaram a mesma influência dos Mestre italianos;
pelos Compagnonnage, também na França, símile das guildas simbólicas medievais;
pelos Canteiros, pedreiros alemães, construtores profissionais de cidades, também chamados de "Steinmetzen". Usavam um cumprimento e um sinal que não podiam ser escritos e adotavam cerimônia secreta de admissão;
pelas Guildas inglesas que derivam de três linhas de tradição: a dos celtas, a dos colégios romanos e finalmente a dos construtores, iniciados na época de Santo Agostinho;
pelos Grêmios mercantis. Foi nesta época que apareceram pela 1ª vez as antigas Ordenanças ou Constituições dos antigos Irmãos Operativos para manter sua unidade de espírito. Esta Maçonaria Operativa atingiu seu apogeu no século XII com o aparecimento e desenvolvimento da Arquitetura Gótica.
A investigação tem suas limitações. Numa sociedade secreta como é a Maçonaria, muita coisa jamais foi escrita, mas, apenas, transmitida oralmente, em Loja. Certamente a preocupação principal, consiste em perquirir na exata linha de ascendência do passado e viver a vida indicada pelos símbolos da Ordem com o fim, precípuo, de atingir a realidade, da qual, estes símbolos, são os maiúsculos reflexos.
É mister que se assinale ainda que existiam, no século XII, na Inglaterra, na Irlanda e na Escócia muitas Lojas Maçônicas além daquelas quatro que fundaram, em Londres, a grande Loja de Londres e Westminster.
O mesmo acontecia no Continente, na França, na Alemanha e na Bélgica.
Permeava a Ordem a influência religiosa.
Em 1877 ocorreu o mais significativo e importante acontecimento que se noticia na Maçonaria Universal contemporânea: foram abolidos na França, pelo Rito, originalmente chamado Francês, os mandos, então dogmáticos, da crença em um Deus de cunho Cristão, bem como, a crença na imortalidade da alma.
Não é função da Maçonaria Universal salvar almas!
Isto cabe às Igrejas em suas múltiplas formas.
Criado em 1761, na França, por isto sua denominação inicial, Rito Francês, foi instituído em dezembro de 1772 e, oficialmente instalado em 09 de março de 1773, com três Graus Simbólicos: Aprendiz, Companheiro e Mestre.
Em 1786, atendendo conveniências da época, foram criados mais quatro Graus, estes, ordem de Graus Filosóficos.
Esta revolução filosófica, gerou grandes reações adversas da Maçonaria Inglesa, representada pela Grande Loja da Inglaterra, essencialmente Teísta e, submissa ao Credo Anglicano.
Surpreendentemente, até hoje alguns pensam que com aquela decisão, o Rito Francês, hoje chamado Moderno, cunhou-se Ateísta.
Não é verdade. Ao contrário transformou-se no âmbito da Maçonaria Universal, o único que pode abrigar, sem reservas, o postulado maior da Constituição de Anderson ou seja: plena liberdade de consciência. É Rito eclético, liberal, humanista e, essencialmente civilista. Da reunião histórica da sua criação e instalação em 1773, o Grande Oriente da França, pelo Grão-Mestre da Maçonaria Francesa o Duque de Chartre depois de muitas manobras de ordem política, resolveu em 1786 aceitar por unanimidade e por em prática a estrutura do Rito que, até hoje, não foi mais modificada.
Graus Simbólicos
Aprendiz, Companheiro, Mestre
Graus Capitulares
4º Grau: Eleito ou Eleito Secretário - 1ª Ordem
5º Grau: Escocês ou Eleito Escocês - 2ª Ordem
6º Grau: Cavaleiro do Oriente - 3ª Ordem
7º Grau: Cavaleiro Rosa-Cruz - 4ª Ordem.
Somos uma Sociedade Secreta de homens livres e de bons costumes.
Na Maçonaria atual, homens que não são construtores por profissão, mas sim construtores sociais, edificam, a cada dia, o Templo moral e social da Humanidade.
Essencialmente isto.
Atendendo os postulados da Constituição de Anderson, a liberdade impede que se imponha qualquer crença ao Iniciado, o que, sem dúvida, é essência do Rito Moderno:
Liberdade Absoluta de Consciência!
O caminho que leva às portas de um Templo Maçon não difere muito de um para outro homem!
Todos buscam paz!
Todos buscam liberdade!
Todos buscam a luz!
Elas estão aqui! Basta ter olhos para vê-las!
Porto Alegre, 24 de março de 1999.
MARCELO MOREIRA TOSTES
MI-Gr 33 do SC DREAEA
quinta-feira, 3 de abril de 2008
RITO MODERNO
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